Gritos, sussurros,...

Xico Sá

Não há mais dúvidas: quanto mais beira o verossímil, com gritos lancinantes na noite, como assimilamos do cinema, mais fingido é o tal do orgasmo. Nunca é condizente com a nossa performance e suor. Os melhores e mais recompensadores orgasmos guardam o bom preceito da educação dos gemidos. Um clássico!
Por mais megalomaníaco que seja Vossa Senhoria, recomendo que não acredite naquelas algazarras, feiras amorosas, sacolões do sexo, capazes de fazer os vizinhos pularem da cama só de inveja. Aquela gritaria toda, meu amigo, só vale para provocar um problema dos mais graves. Deixará o casal que mora do outro lado da parede em pé de guerra, uma vez que a mulher, atenta à lição de gozo comparado, vai exigir mais, muito mais, mais e mais, e mais um pouquinho ainda, do seu colega de prédio ou de rua.
E o pior é que os gritos só costumam ocorrer quando o gozo não passa de truque, melodrama de fêmea, como canta a deusa La Lupe no filme "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos": "Teatro, lo tuyo es puro teatro/ falsedad bien ensayada/ estudiado simulacro/ fue tu mejor actuación/ destrozar mi corazón!"
O gozo desesperado costuma ter origens variadas (falar nisso, por que ninguém cita mais W. Reich, meu ídolo da lira dos 20 anos?!) , de formação em escola com viés jesuíta, interpretação errada dos manuais do Actors Studio, dietas à base de alcachofra, audiências tardias das onomatopéias do Led Zeppelin ou falta de homem propriamente dita.
As melhores gazelas educam cedo os gemidos. Em vez de gritos que parecem mais apropriados para momentos de sequestro-relâmpago, a boa moça sussurra e balbucia safadezas no cangote do amado. Mais vale um bem dito dos 3 mil verbetes catalogados no "Dicionário do Palavrão", do mestre Mário Souto Maior, do que os decibéis selvagens.
As melhores não se desesperam. Já imaginou Ava Gardner em desespero? Nem com Frank Sinatra, a quem enlouqueceu todos os sentidos. E não me venha dizer que isso seja frigidez, frescura ou algo da linha. Fina!
Até a Amy Winehouse, a bela garota suburbana de Southgate, sabe disso. Mesmo depois do seu coquetel preferido - ecstasy, vodka, cocaína e remédio para cavalo - é capaz de um orgasmo educadíssimo. Deve apenas morder um pouco, óbvio, pois sem dentadas, como já dizia o titio Nelson, não há amor. Sim, as que só mordem e tudo calam, nada falam... são as melhores! Vixe, como diria meu professor de ídiche.
Uma coisa é a gritaria, quase um SOS, incêndio em um edifício em chamas ou algum sinistro urbano do gênero. Outra é a gemedeira gostosa, fungada sentida, sacanagem nas oiças, fogo nas entranhas, calor na bacurinha, quase um decassílabo a cada descida, lirismo sem fôlego, a gostosa e inadiável asma do amor, me falta o fôlego, ave!, traz a bombinha!

Screams, whispers, ...

Xico Sá

There is no more doubt: the closer the verisimilable, with distressed screams in the night, as we assimilate from the cinema, the more pretended is this orgasm. It is never consistent with our performance and sweat. The best and most rewarding orgasms keep the good precept of moan education. One classic!
As megalomaniacal as Your Lordship may be, I recommend that you do not believe in all the fuss, love fairs, sex packages, capable of making your neighbors jump out of bed with envy. That shouting, my friend, is only used to cause a serious problem. It will leave the couple who live on the other side of the wall in dispute, since the woman, attentive to the lesson of comparative enjoyment, will demand more, much more, more and more, and a little more, from her building colleague or from Street.
And the worst thing is that the screams only occur when enjoyment is just a trick, a female melodrama, as the goddess La Lupe sings in the film "Women on the Edge of an Attack of Nerves": "Theater, pure theater / rehearsed falsehood / studied simulation / do the best action and destroy my heart!
Desperate jouissance tends to have different origins (by the way, why doesn't anyone mention W. Reich, my idol in the 20's lyre ?!). Desperate jouissance, said this announcer who blows the back of your head, is usually the result of some poorly digested course in amateur theater, training in schools with a Jesuit bias, wrong interpretation of Actors Studio manuals, late hearings of Led Zeppelin onomatopoeia or lack of man itself.
The best gazelles educate their moans early. Instead of screams that seem more appropriate for moments of lightning kidnapping, the good girl whispers and babbles naughtiness in the beloved's neck. A well-said of the 3,000 words cataloged in the "Dictionary of the Bad Word", by master Mário Souto Maior, is better than wild decibels.
The best do not despair. Have you ever imagined Ava Gardner in despair? Not even with Frank Sinatra, who has driven all his senses crazy. And don't tell me that this is frigidity, freshness or something similar. Elegant!
Even Amy Winehouse, the beautiful suburban girl from Southgate, knows this. Even after her favorite cocktail - ecstasy, vodka, cocaine and horse medicine - she is capable of a very polite orgasm. She owes only a little bite, .Yes, the ones that only show in her eyes and touch and say nothing ... are the best! It's one thing to scream, almost an SOS, fire in a burning building or some kind of urban sinister. Another is the delicious, sniffling feeling, slutty in the ears, fire in the bowels, almost a decassyllable with each descent, breathless lyricism, the hot and urgent "asthma" of love, take my breath away, Wow!