Amor virtual
Infelizmente o verdadeiro sentido da palavra Amor tem sido distorcido, ao invés de ser um sentimento livre e pleno passou a ser um compromisso com
idéia de definitivo, amarras, prisão. Se tudo fosse feito com amor e sem medo a vida seria vivida com uma diversidade de prazeres mais duradouros que
os orgásticos, os amores não seriam meteóricos e a felicidade teria uma chance pra ser mais que um sonho, um substantivo abstrato, uma utopia.
Amor é antes de tudo um estado de espírito, por essa razão existem tantos tipos e todos sem qualquer vínculo com regras. Amor não se define, se sente.
O tipo de amor mais moderno é o virtual onde nada acontece de verdade, é um ótimo exercício para a imaginação.
As palavras "ditas" sem olhar nos olhos podem ter a interpretação que estivermos precisando no momento: entender sim onde foi não; quero onde foi dito
talvez,... verdadeiras ou não, se perdem ao pressionar uma tecla.
Os beijos sem o gosto, sem o calor dos lábios ficam por conta da fantasia de cada um.
Os abraços sem sentir o coração bater, sem a fusão da energia dos corpos só enganam a carência com a esperança de torná-los realidade.
Os desejos, de verdadeiro, só a imagem estática da fotografia deixando o vazio ainda mais vazio.
A imaginação quase se materializa não fosse a realidade mostrando que por mais que os pensamentos possam estar em sintonia, nada se compara à troca e à
simbiose da presença física e espiritual.
O amor virtual não leva em conta as diferenças como tipo físico, idade, condição social,... porque não depende do acaso, dos obstáculos e dos riscos que a
vida real está exposta todo o tempo.
Compromisso, palavra que tem uma conotação que provoca recusa até pra ser pronunciada nada mais é senão uma espécie de acordo de trocas que pode nunca se
concretizar e acontece o mesmo na vida real com a frustração das promessas desfeitas.Deixa de existir o que na verdade nunca existiu.
Para quem não levou na virtualidade ficam os sentimentos que a fantasia fez brotar e a decepção de ter fracassado até como uma imagem.
Se além de emails também houve trocas de idéias, opiniões, conversas ao telefone então soma-se a saudade da voz, as palavras ditas de maneira errada, mal
entendidas ou apenas usadas para estragar a brincadeira quando a possibilidade de torná-las realidade começa ficar evidente e nem precisa explicar, dar
satisfação, ter consideração com alguém que na verdade nem existe, foi apenas uma miragem que as falhas de ser gente quebrou o encanto da perfeição.
Com a mesma rapidez e eficiência dos arquivos deletados no computador, deleta-se a sombra que não correspondeu ao objetivo principal o de brincar com a
sedução e testar a força das palavras e o jogo recomeça novamente com uma peça nova e a promessa da satisfação do mundo de faz de contas.
O amor virtual veio para preencher os buracos negros de pessoas com medo de arriscar, errar e com isso aprender, se conhecer, enfrentar os desafios, enfim
viver; porque viver inclui riscos que necessariamente não precisam ser de fracasso mas pra isso é preciso se dar a chance ou ficar sempre na dúvida e deixar
de conseguir o que o consciente e o inconsciente pedem mas o medo não permite que se torne realidade.
Existem muitas pessoas que se descobrem através do amor virtual que só foi o atalho para o amor real.
É preciso, no entanto, tomar cuidado para que a carência afetiva, a solidão, a vontade de acreditar nos sonhos não acabem levando por caminhos escuros e
pessoas sem escrúpulos que usam e abusam da boa vontade e ingenuidade de gente que ainda acredita no ser humano e ignora sua capacidade de destruição em
qualquer que seja o segmento que o mundo oferece.
Dora Canaver - Dezembro 2003
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Virtual love
Unfortunately the true meaning of the word Love has been distorted, instead of being a free and full feeling it has become a commitment to
definitive idea, bonds, prison. If everything were done with love and without fear, life would be lived with a diversity of pleasures more lasting than
orgastics, loves would not be meteoric and happiness would have a chance to be more than a dream, an abstract noun, a utopia.
Love is first of all a state of mind, for that reason there are so many types and all without any connection with rules. Love is not defined, it is felt.
The most modern kind of love is virtual where nothing really happens, it is a great exercise for the imagination.
The words "said" without looking in the eyes can have the interpretation that we need at the moment: to understand yes where was no; I want where it was said
maybe, ... true or not, they get lost when pressing a key.
Kisses without the taste, without the warmth of the lips are due to the fantasy of each one.
The hugs without feeling the heart beat, without the fusion of the energy of the bodies only deceive the lack with the hope of making them a reality.
The wishes, of truth, are only the static image of the photograph leaving the void even more empty.
Imagination almost materializes were it not for reality showing that no matter how much thoughts may be in tune, nothing compares to exchange and
symbiosis of physical and spiritual presence.
Virtual love does not take into account differences such as physical type, age, social condition, ... because it does not depend on chance, obstacles and risks that
real life is exposed all the time.
Commitment, a word that has a connotation that causes refusal even to be pronounced is nothing but a kind of exchange agreement that may never be
materialize and the same thing happens in real life with the frustration of broken promises. There is no longer what really never existed.
For those who did not take into virtuality are the feelings that the fantasy brought forth and the disappointment of having failed even as an image.
If in addition to emails there were also exchanges of ideas, opinions, phone conversations, then there is the longing for the voice, the words said in the
wrong
way, badly
understood or only used to spoil the game when the possibility of making them a reality starts to become evident and does not even need to explain,
to account for anything,
being considerate of someone who doesn't really exist, was just a mirage that the failures of being people broke the charm of perfection.
With the same speed and efficiency of the files deleted on the computer, the shadow that did not correspond to the main objective of playing with
seduction and test the strength of words and the game starts again with a new piece and the promise of satisfaction in the world of make-believe.
Virtual love came to fill the black holes of people afraid to take risks, make mistakes and learn, to know themselves, to face challenges, in short
to live; because living includes risks that do not necessarily have to be failure but for that you have to give yourself the chance or always be in doubt
and leave
to achieve what the conscious and the unconscious ask for but fear does not allow it to become reality.
There are many people who discover themselves through virtual love that was only the shortcut to real love.
It is necessary, however, to take care that the emotional lack, the loneliness, the desire to believe in dreams do not end up leading to dark and
unscrupulous people who use and abuse the goodwill and ingenuity of people who still believe in human beings and ignore their capacity for destruction in
whatever segment the world offers.
Dora Canaver - December 2003
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